Diante de mais um retumbante fracasso da
esquerda no poder, era previsível que os esquerdistas iniciassem um
esforço hercúleo para dissociar o PT da esquerda e, com isso, limpar a
barra de sua doutrina ideológica. São vários que têm insistido na “tese”
de que o partido não é realmente de esquerda, e alguns chegaram a
afirmar que até mesmo Hugo Chávez não era de esquerda, tudo para livrar o
esquerdismo de mais essas manchas negras em seu currículo sujo.
Outros preferem a tática de dizer que os
conceitos de esquerda e direita estão ultrapassados. Reparem: falam isso
justo no momento de ascensão da nova direita brasileira. Verissimo, em
sua coluna de hoje, foi nessa linha, e apelou para um “engraçadinho”
relativismo para proteger a sua esquerda, como se esquerda ou direita
fossem conceitos totalmente subjetivos, tais como água com gás ou sem
gás, carne bem ou mal passada etc.
Brincadeirinhas à parte, e
reconhecendo-se que dois conceitos apenas sempre serão simplistas mesmo,
não é verdade que esquerda e direita são tão subjetivos assim, o que os
tornariam conceitos inválidos. Há definições minimamente objetivas que
separam uma categoria da outra, e só mesmo alguém desesperado para
salvar sua fracassada esquerda apelaria para tamanho relativismo.
Por exemplo: em economia, as distinções
não poderiam ser mais claras. A esquerda é intervencionista,
inflacionista, defende um estado empresário, estatais, crédito público
para estimular a economia, combate a ortodoxia fiscal etc. A direita,
lógico, prega o oposto: livre mercado, privatizações, o lucro como
locomotiva do progresso etc. O PT é de direita? Que piada de mau gosto!
No comportamento, a esquerda é
“progressista”, diz defender as “minorias”, acaba muitas vezes atacando
as tradições estabelecidas, quer legalizar as drogas, o aborto, tende a
desdenhar da família tradicional e das religiões, ao menos aquelas
derivadas do cristianismo. A direita se divide aqui entre a liberal e a
conservadora. A liberal coloca o foco na menor minoria de todas, o
indivíduo, enquanto a ala conservadora valoriza mais o coletivo, as
tradições. Os libertários, que em economia estão do lado direito, aqui
acabam mais do lado esquerdo.
Outra marca registrada da esquerda, mas
que não é sua exclusividade, é o coletivismo. O esquerdista enxerga
raças, classes, grupos, deixando de lado o indivíduo, enquanto a direita
liberal não adota essa visão de mundo, que segrega indivíduos com base
em uma característica apenas. Alguém ainda acha que dá realmente para
tirar o PT da esquerda?
“Movimentos sociais” como os invasores do
MST estão claramente à esquerda, enquanto defensores da propriedade
privada ficam na direita. Novamente: o PT é de esquerda ou de direita?
Precisa mesmo responder? Alguém acha que a simples presença de um
Joaquim Levy é suficiente para jogar os intervencionistas para a
direita?
“Ah, mas os banqueiros e os empreiteiros estão felizes com o PT”, dizem os inocentes. Ora bolas, e quem disse que a esquerda efetivamente é
para os mais pobres? Onde foi assim? Quando? Isso é monopólio das
virtudes, dos fins nobres. Mas esquerda e direita, ao contrário do que
diz Verissimo, não é uma questão do que diz, e sim do que faz.
Os métodos esquerdistas sempre levaram à concentração de poder e
recursos numa elite. O BNDES selecionando “campeões nacionais” é
defendido pela esquerda, e condenado pela direita.
Dito tudo isso, e deixando claro que o PT
é, sempre foi e sempre será um partido de esquerda, resta acrescentar
que há conceitos, hoje, realmente melhores do que esquerda e direita.
Por exemplo, populistas e republicanos. Os populistas agitam as massas,
querem distribuir riqueza alheia, mas não se preocupam em como criar mais
riqueza, adotam retórica contra os ricos, cospem na meritocracia
individual e acham que as leis devem valer apenas para os outros.
Os republicanos defendem o império das
leis, a igualdade de todos perante as mesmas regras, as instituições
acima do arbítrio dos governantes. Mas, novamente, isso serve quase
perfeitamente para definir, também, a esquerda (populista) e a direita
(republicana), não é mesmo?
Por fim, a melhor definição de esquerda talvez seja a simples tradução da palavra em italiano: ela é sinistra!
Rodrigo Constantino
Fonte: Rodrigo Constantino
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